Drex fora da Blockchain: Impactos Técnicos, Jurídicos e de Confiança no Real Digital (CBDC Brasil)
- Gabriel Morciani
- 12 de ago.
- 3 min de leitura
O Banco Central do Brasil confirmou: a próxima fase do Drex (real digital) não será baseada em blockchain ou qualquer tecnologia de registro distribuído (DLT). A mudança, anunciada por Fabio Araújo, coordenador do projeto, durante o evento Blockchain Rio e repercutida em portais como Valor Econômico, Portal do Bitcoin e Cointelegraph Brasil, muda o rumo de um dos projetos mais aguardados do mercado financeiro brasileiro.
Mas o que significa, na prática, um Drex sem blockchain? E por que essa decisão importa para o ecossistema Web3, empresas e cidadãos?

Desafios Técnicos e Jurídicos no Drex (Real Digital)
DLTs são, por natureza, descentralizadas. O controle distribuído entre vários nós garante alta resiliência, segurança via replicação de dados e auditabilidade transparente. Por outro lado, sua imutabilidade entra em rota de colisão com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), especialmente com o artigo 18 — que dá ao titular o direito de anonimizar, bloquear ou excluir dados pessoais. Em blockchain, apagar dados não é simples… nem sempre é possível.
Além disso:
Redes públicas expõem transações (mesmo que pseudonimizadas).
Redes permissionadas concentram o poder de liberar dados, levantando dúvidas sobre integridade e confiança.
Complexidade de Implementação e Adoção em Massa do CBDC Brasil
O BC testou três ferramentas da Hyperledger Besu na fase inicial e, depois, outras opções. Nenhuma atendeu aos requisitos de escalabilidade, privacidade e segurança de uma infraestrutura financeira nacional.
Resultado: um modelo mais direto, centralizado e com entregas rápidas foi escolhido para a primeira versão.
Fabio Araújo resume: soluções promissoras existem, mas ainda “não são suficientes” para o nível de robustez necessário.
O que muda com o Drex fora Blockchain
A estreia do Drex está prevista para o segundo semestre de 2026, focada na reconciliação de gravames — integração entre ativos registrados em corretoras e garantias de crédito no sistema bancário.
O detalhe é que não sabemos qual tecnologia substituirá a DLT. Há especulações sobre a reutilização da infraestrutura do Pix ou o uso de sistemas proprietários de liquidação. E isso importa, porque a arquitetura tecnológica vai influenciar diretamente a percepção de segurança e a confiança pública.
Economia, Tecnologia e Lei: Conexões Indissociáveis no Real Digital
O Drex foi idealizado para criar uma economia mais ágil, segura e menos burocrática. Mas entregar isso sem blockchain exige equilíbrio entre inovação, segurança jurídica e aceitação popular.
Sem clareza sobre a base tecnológica, o projeto corre o risco de ser percebido como menos transparente. E, em tempos de crescente preocupação com privacidade, essa percepção pesa.
O que isso significa para o Ecossistema Web3 e Tokenização
Para startups, protocolos e empresas do setor, a decisão do BC pode gerar duas reações:
Oportunidade: abrir espaço para soluções privadas ou híbridas que usem blockchain em outros pontos da infraestrutura financeira.
Desafio: lidar com uma narrativa pública onde “blockchain não é necessária” para projetos de grande escala.
No contexto latino-americano, onde o Brasil é referência em tokenização e inovação regulatória, essa mudança pode influenciar outras jurisdições.
E agora? Perspectivas para o CBDC Brasil
O Drex sem blockchain não é o fim da história. É um capítulo de um projeto que ainda está em construção — e que pode evoluir tecnicamente no futuro. A decisão reforça um ponto: inovação em larga escala é tão sobre tecnologia quanto sobre política, regulação e confiança.
Se você acompanha a Web3Valley, sabe que seguimos de perto o impacto de CBDCs, stablecoins e tokenização no Brasil e na América Latina. O Drex pode não começar na blockchain, mas o jogo da descentralização e da infraestrutura digital no país está longe de ser definido.
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